Nunca houve tanto fim
- Fernanda Nali
- 5 de jan.
- 2 min de leitura
Atualizado: 20 de jan.
Ou problema do tempo no mundo.
Minha primeira leitura do ano se iniciou no fim do passado. É "O novo tempo do mundo", de Paulo Arantes. Em uma época do ano em que o tempo parece ter outro tempo, e ao mesmo tempo em retrospectiva refaço, por hábito, o calendário, fio a fio pondo em revisão (ou seja, revendo) episódios desde o fim até o começo, no rito do ciclo, me dou conta, ou me recordo, ou penso (enquanto leio): nossa relação com o tempo é também ela própria matéria decisiva das nossas experiências.
O que me coloca pensando nisso é algo que recupero do texto: o tempo do mundo, como espécie de superestrutura, está intimamente vinculado ao campo das experiências (nossa relação com o passado) e ao horizonte de expectativas (nossa relação com o futuro). A percepção do passado nos modula a expectativa do futuro. Como as pessoas vivem em conexão com o passado e a experiência tornada hábito modula o horizonte de esperas de cada época... (me dou a licença de usar livremente o vocabulário do texto).
Qual a grande espera? Um dia (que no tempo do mundo) foi a revolução (século XIX); depois a guerra (século XX). Um grande acidente. O estado de crise permanente...
O subtítulo retoma o novo tempo do mundo metonimicamente: era da emergência. E falando com ela, o texto recupera as expressões world time, tempo do mundo, horizonte de expectativas, expectativas decrescentes..
Com o fim da guerra fria, o horizonte do mundo encolhera vertiginosamente e uma era triunfante de expectativas decrescentes principiara como uma Queda espetacular."
O globo encolhe e os horizontes se reduzem a um ponto em que só existe o presente.
Esse presente prolongado.
O tempo do mundo é um tempo envoltório.
Recupero outro fio recuperado no texto: o conceito de geocultura de Wallerstein, que surge em meio ao debate sobre o fim da história (década de 1980). O tempo da geocultura, ao contrário do histórico, não é episódico: "é o modo como o sistema toma consciência de si próprio". Só é possível falar a linguagem do sistema.
Numa das sessões da análise ouvi da analista praticamente o mesmo: o tempo do insconsciente não é episódico. No fim do ano passado, escrevi em um post do instagram que completei 12 meses ininterrupto de análise.
(continua)
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